O pastor Anderson do Carmo, marido da deputada federal Flordelis dos Santos, levou um tiro a curta distância na cabeça, revela o laudo do Instituto Médico Legal (IML) no dia do crime. De acordo com o documento, um dos disparos que atingiram a vítima, morta no dia 16 de junho na casa da família, em Pendotiba, Niterói, foi dado em sua orelha direita. Para o perito legista aposentado Levi Inimá, que analisou o laudo a pedido do EXTRA, o disparo que atingiu a cabeça de Anderson foi o responsável pela sua morte.
- A morte foi instantânea, consequente às lesões do crânio. O que demonstra isso, no laudo, são a hemorragia das meninges, as lesões no encéfalo e as fraturas dos três andares da base do crânio, que é incompatível com a vida - pontuou.
O laudo constatou que a vítima tinha 30 perfurações pelo corpo, mas o perito responsável pela análise não conseguiu determinar por quantos tiros ela foi atingida exatamente. Um mesmo disparo pode entrar por uma parte do corpo e sair por outra, causando mais de uma perfuração.
No documento, o perito não conseguiu determinar quantas perfurações foram causadas pela entrada e saída do projétil, o que também pode ajudar a esclarecer o número de tiros que atingiram a vítima.
- O legista foi incapaz de determinar quantas foram as feridas de entrada e quantas foram as de saída, à exceção da ferida de entrada na orelha direita. Ele descreveu, genericamente, as lesões nos pulmões, fígado e demais órgãos intra-abdominais. Um exame cadavérico pessimamente realizado - criticou Levi.
O perito ouvido pelo EXTRA também ressaltou que a cena do crime foi desfeita, atrapalhando nas investigações. A informação sobre as alterações feitas no lugar do assassinato constam no Laudo de Local produzido por perito criminal da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo. Em depoimento, uma das filhas de Flordelis contou à polícia que um dos netos da deputada, Ramon dos Santos Oliveira, recolheu estojos (parte da munição) do local.
— Cada tiro resultou na ejeção de um estojo. O local de crime foi desfeito, dolosamente. O número dos estojos, no local, seria equivalente ao número de tiros. E os estojos, certamente, tinham impressões digitais do atirador — alertou.
Ramon é filho de Simone dos Santos Rodrigues, filha biológica de Flordelis. O próprio rapaz afirmou, em depoimento à polícia, que recolheu dois projéteis, mas ambos foram entregues na delegacia.
A arma usada no crime - uma pistola 9 milímetros da fabricante argentina Bersa - foi encontrada por agentes da DH durante uma busca e apreensão feita na casa da família, em Pendotiba, dois dias após o crime.De acordo com informações da Polícia Civil, a pistola estava em cima de um armário, no quarto de Flávio dos Santos Rodrigues, filho biológico de Flordelis. Ele está preso, acusado de ter matado Anderson, que era seu padrasto. Flávio confessou o crime. Um exame pericial confirmou, ainda, que um pelo encontrado na arma era do rapaz. Lucas Cézar dos Santos de Souza, filho adotivo de Flordelis e Anderson, é acusado de ter auxiliado o irmão na compra da arma.
A Polícia Civil tenta rastrear o histórico da pistola usada no crime. A Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo enviou um ofício à Interpol (órgão de cooperação entre polícias de diferentes países), no dia 31 de julho, pedindo dados sobre o rastreamento da arma. O documento, ao qual o EXTRA teve acesso, foi assinado pela delegada Bárbara Lomba, titular da DH de Niterói e São Gonçalo. A polícia ainda não recebeu resposta.
Após conclusão da primeira parte das investigações, que terminou com o indiciamento de Lucas e Flávio, a DH abriu outro inquérito para apurar o envolvimento de outras pessoas da família no crime.